Douglas Duarte e sua arte em jogos independentes na divina entrevista

Novamente brasileiro e maravilhoso artista aqui como entrevistado do blog! Dessa vez tenho o prazer de ter a participação de Douglas Duarte, um artista brasileiro de sucesso no meio dos jogos de tabuleiros, com trabalhos nacionais e internacionais, inclusive de jogos independentes!

Acompanhe como este artista chegou até os jogos de mesa e as diversas dicas que ele mesmo dá para quem entrar de cabeça nesse mundo de meeples, dados, tabuleiros, cartas e muito mais!

Quem é o Douglas Duarte?
Sou do interior de São Paulo, o que me proporcionou uma infância leve e com diversas possibilidades de poder brincar na rua, jogar futebol descalço em fazendas e correr atrás de pipas. Apesar destas opções de lazeres comuns para uma criança dos anos 80, os videogames e animes foram coisas marcantes na minha vida. Desde o primeiro contato no episódio que assisti dos Cavaleiros do Zodíaco em 1995, Dragon Ball e Yuyu Hakusho na TV e somado às jogatinas de Alex Kid, Sonic e Chrono Trigger, o desejo de consumir essa cultura do oriente e também de desenhar foi despertado intensamente.

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Já na adolescência e na fase dos primeiros empregos foi um choque muito grande me deparar com funções e qualidades de trabalho que simplesmente me pareciam um inferno. Trabalhei em uma fábrica de calçados femininos, onde a passagem das horas eram eternas, com um sistema de função robótico executando a mesma função o dia todo sem poder ouvir uma música e até mesmo conversar. Dentre essa e outras experiências, eu resolvi buscar no hobbie (desenhar) algo viável para o meu sustento. Acabei prestando vestibular na UNESP e me formei em educação artística. Até tentei dar aulas em alguns colégios, mas ficou evidente que não era o que eu buscava!

Quando tudo começou a tomar um rumo mais profissional?
Minha vida começou a mudar quando entrei na função de estagiário de ilustração em uma empresa de tecnologia. Na época, a equipe desenvolvia jogos em formato Flash (FVL)  voltados para escolas da rede pública de ensino. Ali foi a primeira vez que me vi fora da zona de conforto na ilustração, pois tinha que desenhar coisas das quais eu nunca havia feito ou não costumava desenhar.

Somando estes desafios com a minha formação, eu busquei acompanhar o mercado e descobri outra paixão: a animação 3D e suas possibilidades de modelagem. Até hoje tento sempre trabalhar com diferentes estilos de artes, traços e temas, buscando atalhos que facilitem a produção. Percebo agora que, no meu caso, nunca foi uma questão de talento, mas simplesmente o fato de que desde criança eu não parei de desenhar.

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Imagem: Douglas Duarte

Quando começou sua carreira em arte? E quando começou a trabalhar com jogos de tabuleiro?
Em 2014 estava em situação complicada porque tinha perdido o emprego e uma semana depois descobri que seria pai de uma linda garotinha. O mundo deu em poucos dias um  “360° drástico”… Foi um momento crítico que pensei em abandonar de vez tudo isso e prestar um concurso ou trabalhar com outras coisas.

Foi nesta janela de desespero e desanimo que o meu amigo Led Bacciotti (game designer do jogo Imigrantes) me apresentou uma comunidade do Facebook de desenvolvedores de jogos de mesa e afins. Naquele momento eu me deparei com outro universo, com o mercado brasileiro crescendo com os produtores independentes. Entre um e outro projeto, acabei conhecendo em um evento o criador da página, o Thiago Mello (Pélaghos), que fiz questão de agradecer por tudo e mencionar como aquele grupo me ajudou no meu sustento e crescimento profissional. A vida tem seus “roteiros” e as vezes é impossível de se prever, pois hoje o Thiago é um grande amigo e parceiro de trabalho.

O que já foi publicado no mercado que possui sua arte? Dentre esses trabalhados, qual foi seu favorito e o mais desafiador?
Bom… eu acho que todas as produções são desafiadoras, de um modo ou de outro, em sua propriedade: seja pelo prazo, pelo estilo ou tema. Uma questão interessante é que a maioria das produções de jogos de tabuleiro que eu ajudei a produzir são independentes.

Nesta lista, aqui estão os que eu me lembro, mesmo com alguns ainda não lançados:

Nacionais

  • Condenados – Guto Kraft
  • Obras S/A – Alexandre Amaral
  • Anime Saga – Michael Alves
  • Geopolitics – J.R. Paulon
  • Peixes – Eurico Cunha Neto
  • Primeiro Comando e Grid Hunters – Marcelo Dias
  • Vossa Excelência e expansões – Fernando Augusto Prado
  • Treta do Anzol – Mário Sérgio e Rodrigo Zuzu
  • Azzelij –  Mário Sérgio e Rodrigo Zuzu
  • Rali –  Alexandre Amaral
  • Ártico e Portal – Mário Sérgio
  • Apex k Truck Racer – Fernando Kornjezuk
  • Konya 52 – Thiago Mello e Renan Campagnolo
  • RPG Quest – Marcelo Del Debbio
  • Rasher e Space Rasher – Alexander Franscisco
  • Effect: Conflicting causes – Robson Joiner
  • The cook-off – Luis Franscico

Aqui estão alguns internacionais:

  • Floe – Arkadiusz Greniuk
  • Stump Chombers –  Arkadiusz Greniuk
  • Teasures of India – Andres Desa
  • Connecting Flights – Rafa Dawid
  • Kinghill – Petr Marek
  • Kalymba – Craftando Jogos
  • Nanolith – Woodpecker games
  • Spirit Duels – Daniel Miller
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Capa do jogo Rasher, editora Game Maker (2017). Imagem: Douglas Duarte

O que você espera para o futuro profissional?
O que não me falta é roteiros que criei nas horas livres para possíveis histórias em quadrinhos. Eu espero poder expor algumas ideias que eu tenho de universos cyber punks  nestes quadrinhos (meu gênero preferido).

Sobre jogos de tabuleiro, eu tenho alguns projetos engatilhados como produtor/ilustrador em parcerias.

Partindo para os jogos 3D e modelagem, atualmente trabalho com esculturas digitais, impressas em 3D, variando de personagens até meeples customizados. Por fim estou tendo a possibilidade de criar um jogo usando a Unreal Engine, uma ferramenta que estou estudando para complementar o meu conhecimento das ferramentas Zbrush e Blender. Apesar de parecer um amontoado de funções, aprendi ao longo dos anos que muitas vezes a construção de novos caminhos me permite evoluir num todo e podendo explorar, produzir e expressar o que o meu espirito tanto anseia.

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Arte Cyberpunk. Imagem: Douglas Duarte

Algum recado para quem deseja trabalhar na área de ilustração como um todo?
Se a pessoa tem um talento nato para ilustrações (o que não é o meu caso), o caminho é bem mais fácil. Mas se a pessoa não tiver o “dom” como eu e deseja a todo custo trabalhar na area, será necessário esforço e superação. Eu recomendo sempre buscar se especializar no que for possível nas ferramentas de produções, desde o Photoshop ao Blender. Isso permite um leque de possibilidades e resoluções que facilitam demais na hora de produzir um determinado tema ou estilo. Sempre finalize qualquer estudo que começou! Mesmo não gostando do resultado é primordial superar todo o processo de produção para que só assim você consiga gerar dúvidas e resoluções daquele estudo e por fim evoluir de alguma maneira.

Nota: Esta entrevista estava programada para ser publicada no dia 30 de setembro de 2022, ao final do mês, como é de costume aqui no blog. Acontece que doenças leves na família impossibilitaram a boa manutenção do blog quanto a coluna Divina entrevista. Minhas sinceras desculpas pelo atraso ao artista Douglas Duarte.