O Diego da Dijon na Divina entrevista

Diego é uma figura carismática e super profissional do mercado de jogos de mesa no Brasil, cujo destaque fica para o seu trabalho divino com jogos nacionais, seja desenvolvendo e ajudando os autores nacionais, seja criando e publicando seus jogos autorais.

Na divina entrevista de novembro, reta final do ano, teremos aqui o dono da editora da cor mostarda!

Quem é o Diego de Moraes?
Sou editor e proprietário da Dijon Jogos, uma editora focada exclusivamente no lançamento de jogos brasileiros. Sou também autor dos jogos Cosmos, Os Incríveis Parques de Miss Liz e outros que serão lançados em breve.

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Diego de Moares. Foto: Arquivo pessoal

De onde veio a ideia de criar uma editora? E de onde surgiu esse divino nome “Dijon Jogos”?
Desde criança eu sempre gostei de criar jogos e qualquer coisa era desculpa para desenvolver um. Tanto que meu primeiro jogo foi na 4a série para a matéria de português, sobre adjuntos adnominais (risos). Então quando descobri os jogos modernos foi só questão de tempo até estruturar tudo para montar uma editora.

O nome veio como uma referência ao meu canal no YouTube, o Coronel Mostarda. Hoje em dia ele está meio parado, mas gostaria de retomá-lo assim que tiver tempo.

Sua formação acadêmica e experiência profissional influenciaram nessas decisões?
Na decisão de montar uma editora não, mas ajudaram muito no processo de montá-la e mantê-la. Sou formado em publicidade e trabalhei como diretor de arte em grandes agências do país. Essa base com certeza me ajudou muito na divulgação dos meus jogos e também no desenvolvimento do design gráfico tanto da comunicação como dos jogos mesmo.

De onde veio a inspiração para seus jogos autorais?
De todas as coisas! Inspiração pode vir de qualquer lugar, a qualquer momento. Os Incríveis Parques de Miss Liz foi criado poucos meses depois de eu voltar de uma viagem à Disney, enquanto a ideia o Cosmos veio depois que eu assisti um vídeo a um vídeo do canal Nostalgia falando sobre o surgimento da lua.

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Apresentando Os incríveis parques de Miss Liz, em 2017, no evento LAB Jogos, SP. Foto: Arquivo pessoal

Qual a razão de lidar somente com jogos brasileiros?
Por uma questão ideológica mesmo. Acredito que temos muita capacidade criativa nesse país de tamanho continental, porém ela é pouco explorada profissionalmente. Existem diversos autores com jogos incríveis em suas mãos, mas com poucas oportunidades para lançá-los. Quero ser o portal por onde esses jogos passam, são refinados e alcançam o mundo.

A razão ideológica acima também é o motivo de não lidar com os jogos internacionais licenciados?
Exatamente. Se os brasileiros estão com poucas oportunidades, por que eu vou limitar mais ainda esse espaço gastando meu orçamento em jogos estrangeiros? Além disso, o mercado está muito saturado de distribuidoras de jogos internacionais, não acho que tenha mais espaço para importação.

Você trabalha para enviar licenças dos jogos brasileiros para fora do Brasil? Ou seja, para que os países lá de fora possam publicar os divinos jogos publicados por você?
Sim, mas infelizmente não é nada fácil para uma editora independente conseguir esses contratos lá fora. As grandes empresas quase nunca respondem e quando respondem a maioria das vezes é com um negativo até agora. Apenas uma negociação do Persona Non Grata andou, mas a empresa depois de um tempo sumiu e parou de responder… Já as editoras pequenas até respondem, mas muitas vezes querem fazer uma troca, onde eles publicam meus jogos e eu publicaria os deles, mas como disse, importar não está nos meus planos.

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Diego autografando o jogo Cosmos, de sua autoria. Foto: Arquivo pessoal

Quais os principais desafios, senão todos, de se publicar um jogo brasileiro no Brasil?
São vários (risos)! Os custos são altos, pois a maior parte da matéria prima das gráficas brasileiras é importada. Então com o dólar nas alturas, os jogos também ficam caros. Depois, uma parcela da comunidade mais antiga no meio possuiu um certo preconceito com jogos brasileiros. Isso se deve porque vários jogos mais antigos foram bem mal feitos, então isso ficou enraizado na cabeça dessas pessoas. O problema maior é que muitos lojistas fazem parte dessa parcela e isso os influencia a não darem sequer uma chance de colocar os jogos brasileiros em suas lojas. Por fim, o mercado nacional ainda é muito pequeno. As tiragens dos jogos não conseguem ser muito grandes, pois é bastante difícil distribuir e vender muita quantidade pelo país.

E quais os principais fatores que atrasam a produção dos mesmos?
Diferente das editoras distribuidoras, que apenas importam e revendem, as editoras que desenvolvem seus próprios jogos precisam de bastante tempo para finalizarem seus projetos. Isso se dá porque é preciso afinar todas as regras dos jogos, contratar ilustradores, revisores de texto, definir os componentes e muitas outras coisas que as importadoras não precisam fazer.

É possível ver, ao longo da recente história de vida do mercado brasileiro de jogos de mesa, que muitos títulos foram prometidos por diversas editoras do mercado, mas nunca de fato foram produzidos, inclusive uma boa parte desses jogos voltou para as mãos dos seus criadores. Considerando sua vasta experiência com jogo brasileiros, o que você acha que deu errado nesses casos?
Não sei dizer, pois não aconteceu comigo, portanto não posso julgar ou tentar adivinhar o que aconteceu com outras editoras. O caso mais próximo disso na minha editora é o do Apis, que anunciei mas encontramos um problema em uma parte do jogo que até agora não conseguimos solucionar. Portanto ele está parado, mas o autor não teve interesse em pedir os direitos de volta porque sabe que não é um caso de negligência e que a qualquer momento ele pode me acionar para conversar e definir novos caminhos.

Também considerando sua grande experiência em lidar com fornecedores dos componentes no Brasil, você acha que temos boa qualidade em impressão, tecnologia, papel e/ou componentes para jogos de mesa em geral?
Sim, até melhor que muitos fornecedores estrangeiros. A Copag é um desses, por exemplo. As cartas deles seguem um dos padrões internacionais mais alto de qualidade, superando muita coisa que vem da China. Eu mesmo só produzo as minhas cartas com eles.

Existem problemas ao lidar ou contratar artistas brasileiros para desenhar os jogos de mesa?
Nunca tive nenhum problema. Pelo contrário, é bem mais fácil contratar um brasileiro do que um estrangeiro, pois na hora do pagamento basta ele emitir uma nota fiscal e eu pagá-lo. O estrangeiro eu teria que pagar em dólar ou euro e não tenho ideia de como seria a declaração de impostos, como que ele emitirá uma nota fiscal, etc.

Pode contar algum “spoiler” sobre lançamentos futuros?
Estou com cerca de 8 jogos na linha para serem desenvolvidos e produzidos! Os 4 mais avançados são o Persona no Grata (um jogo cyberpunk de draft bem diferente do autor Sergio Halaban), o Rigani (um jogo controle de área no reino das fadas, de minha autoria, para dois jogadores), o Luminosus (outro de minha autoria, “flip and write” de construção de uma galáxia) e o MiscellaneOS (um jogo sobre inteligências artificiais em um PC dos anos 90) que com certeza é o jogo mais pesado que já desenvolvi na Dijon, de autoria do Danilo Valente e do Pedro Latro.

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Rigani sendo apresentado no DOFF 2022. Foto: Arquivo pessoal

Por fim, uma dica para quem quer perseguir esse divino objetivo de publicar um jogo autoral, seja pela Dijon ou não!
Jogue vários jogos, conheça a comunidade e saiba que antes de um jogo você está criando um produto. Repertório e foco são tudo!