O Bombardium e a Divina entrevista

Na entrevista da vez um participante diferente apareceu: um jogador de jogos de tabuleiro digitais, com mais de mil horas de jogos na web, além de uma coleção de dar inveja em muita gente por aí.

Portanto, ao invés de somente profissionais do mercado, o blog recebe um jogador que, apesar de não necessariamente preferir o mundo digital, se utiliza demais dele para se divertir, conhecer novas pessoas e principalmente economizar dinheiro testando os lançamentos no mercado nacional!

Quem é o Bruno?
O Bruno (Bombardium na web) é um cara acelerado – muitas vezes mal interpretado (que parece grosso), mas na verdade só é bem direto ao ponto.

Gosto de cozinhar, de jogar (não especificamente jogos de tabuleiro) – sempre foi de minha natureza. Tem basquete? Tô jogando. Tem vídeo game, bora. Pokerzinho? Show. Competitividade sempre esteve no sangue. Gosto muito de animais, convivo com gatos e cachorros desde a infância e curto bastante meus instrumentos. Acima de tudo, sou um cara democrático, em qualquer área da minha vida.

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O Bombardium em pessoa ruiva

De onde começou o interesse por jogos de mesa em geral?
Com um cara que nem considero mais um amigo. Quando eu frequentava a casa dele, eu via aquelas estantes de jogos de tabuleiro e sabia que ali havia um hobby não desbravado, era por volta de 2013-2014.

Depois daquilo quando deu para começar a investir nisso e montar um grupo, eu fui atrás e criei o meu próprio. Comecei com Catan, Civilization (aquele de 2010) e Zombicide Black Plague, desde então não parei mais.

E o interesse pelos jogos digitais?
Vídeo games são uma paixão antiga. Cresci com um “Turbo Game” em casa e dali fui para o Master System 2 (com Alex Kidd na memória!), dali fui para o PlayStation 1, e aí foi que a coisa começou a dar um “nó” na cabeça de pequeno Bruninho com aquele monte de RPG bom da época.

Durante aquele período, vários jogos marcantes foram lançados e entre jogar e estudar o curso de inglês sábado de manhã, os jogos acabaram me ajudando a desenvolver essa segunda língua com mais facilidade.

Onde existem registros de quantas horas você já jogou nas plataformas digitais?
Na Steam com certeza você consegue ver quanto tempo eu tenho de Tabletop Simulator, os outros eu já acho mais difícil conseguir ver tempo de jogo.

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Muitas horas conhecendo lançamentos no Brasil

Da pandemia iniciada em 2020 no Brasil para cá existiu um aumento na oferta de jogos de tabuleiro digitais por editoras de todos os tamanhos, assim com também por fãs que se dedicam a adaptar e criar versões digitais dos jogos de mesa. Você acha que todo tabuleiro deveria ter uma versão digital?
Definitivamente não. Jogos euros são muito mais fáceis de se trazer para o mundo digital, pois gestão de recursos, seleção de cartas, alocação, até construção de baralhos são bem mais tranquilos de se jogar pois o cerne deles está dentro da mecânica.

Jogos com desenvoltura social, de blefe e jogos narrativos ainda sofrem com isso. Como você joga Dead of Winter com possibilidade de ter traidor na mesa online sem ver a cara de quem está jogando contigo? É parte do jogo e simplesmente seria removida dali. Ameritrashes em geral tendem a sofrer muito mais com isso que um jogo euro por esse motivo.

Hoje qual é a melhor plataforma digital para jogar jogos de tabuleiro?
Gratuita, definitivamente o Boardgame Arena (vulgo BGA) tá dando aulas: tudo funciona muito bem, a mesa programada funciona baseada no manual do jogo sem tirar nem por e há consultoria do designer do jogo para ter o aval e ver se tudo está funcionando bem. Tudo ali foi feito com muito esmero!

Paga, sem dúvidas o Tabletop Simulator (TTS). Lá você consegue imagens de alta resolução, tudo é feito pra literalmente servir como se fosse uma mesa real onde você move os componentes, olha a pilha de descarte do oponente e se você usar o VR (realidade virtual) então o negócio fica muito louco! Aqui você não paga pelo jogo: eles são compartilhados por diferentes usuários do mundo todo, o que faz o a oferta de jogos do TTS ser um dos mais recheados em questão de conteúdo em comparativo a todos os outros jogos na Steam.

Existe alguma boa plataforma paga, seja em assinatura ou compra dos jogos?
As duas que citei acima possuem planos pagos: O BGA libera que a pessoa “VIP” consiga ter prioridades nas mesas e consiga criar salas com os jogos “Premium” (também conhecidos como jogos que são mais recentes ou mais procurados).

O TTS também tem os “jogos pagos”; são módulos criado pelas editoras e colocados a venda para serem executados dentro do TTS, mas sinceramente, raramente as pessoas os compram. A maioria das editoras tende a colocar os jogos ali dentro literalmente porque é uma propaganda “gratuita” de seu jogo – a Mindclash por exemplo cansa de botar seus próprios jogos de graça no TTS para literalmente fazer propaganda de suas campanhas no Kickstarter e tem funcionado bem. Isso dá abertura para um modelo interessante e pouco explorado por outros designers/editoras.

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A experiência é melhor ou mais divertida nos jogos na vida real com o manuseio dos componentes, nas suas versões digitais ou em ambos? Por que?
São nichos e grupos diferentes: o jogo é sempre melhor quando a pessoa está “dentro dele”, independente de plataforma. Quantas vezes você ficou chateado com alguém que não tá prestando atenção no jogo e fica mexendo no celular enquanto os outros jogam e atrasa a partida de todos?

Do mesmo jeito, no jogo online pode acontecer coisas similares, pessoa dividindo atenção com outras coisas e comprometendo o tempo da galera. O ideal mesmo é você “achar sua turma”, ou seja, as pessoas que jogam o jogo do jeito que você se sente melhor e que seja agradável para todos.

Na sua experiência, o Brasil investe nessa área digital de jogos de mesa?
Definitivamente não. Não há nenhum jogo BR digital para ser comprado na Google Store por exemplo, porém, há sim versões brasileiras de jogos dentro do TTS. Porém tudo é feito por fãs, sem investimento financeiro de ninguém. Se você procurar no Workshop do TTS, você vai achar Eldritch Horror, Merchants & Marauders, Blood Rage e outros em português brasileiro e até alguns próprios jogos brasileiros, mas isso não veio de nenhuma forma das editoras. Veio do fãs, literalmente feito por outros fãs.

Sua fácil acessibilidade às versões digitais dos tabuleiros foi o que incentivou a criar o canal de conteúdo na Ludopedia, o “Versus”?
Na verdade o que me incentivou foi o fato de que eu estava parado em casa e precisava ocupar meu tempo com algumas coisas. Eu estava estudando bastante para concursos públicos e como válvula de escape eu estava utilizando o canal. Funcionou bem, tem um pessoal que curtiu, então foi vitória para os dois lados!

Agora que eu estou trabalhando novamente estou sofrendo um pouco para manter atualizado o canal, mas daqui a pouco tudo melhora. O que me falta agora é mais tempo para fechar grupo fixo pra testar jogos com maior frequência (aos interessados, gritem!). Tenho tentado focar em lançamentos futuros ou que saíram há pouco tempo no por aqui para gente conseguir criar material com rapidez, às vezes eu consigo, às vezes não.

Por que o formato de “Versus” do seu canal, como se fosse um enfrentamento dentre títulos do mercado de jogos de mesa?
A minha ideia é sempre falar de dois títulos, não como um enfrentamento, mas sempre fazendo um comparativo de duas coisas que os jogos tenham em comum: seja o tema, mecânicas, designer, artes, etc. Por exemplo, meu último post, foi sobre o tema de “nuclear wasteland” onde eu citei o Radlands e o Fallout, os dois são ligados pelo tema, mecanicamente não tem nada a ver um com o outro.

Assim como você vê uma crítica comparativa por conceitos, como no post do Dune x Root. Há uma gama de comparações que podem ser feitas e a brincadeira do canal é essa: achar o que é similar em duas ideias completamente diferentes. Às vezes eu vou para o óbvio, como no caso do Dinossaur Island x World, mas existem também situações com bastante espaçopara reflexão e eu gosto bastante dessa ideia.

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Por fim, uma dica de quem quer economizar nas versões reais e usar os produtos digitais?
Se você tem um computador bacana compre o Tabletop Simulator, de preferência durante as épocas de promoção da plataforma Steam, onde uma chave do app fica por 18 reais mais ou menos. Depois se espante com a quantidade de jogos que você pode executar com tão pouco investimento.

Se você é mais usuário de celular, vai para o BGA, onde comprar uma assinatura VIP é bem barato e vale bem a pena. Tem bem menos jogos, mas a interface é decente o suficiente para vários jogos!

Agradecimentos divinos por participar da entrevista, Bombardium!