Diego Sá é o entrevistado da Divina entrevista

Ele é artista profissional desde os anos 2000 onde conheceu os jogos modernos enquanto estudava a graduação de Artes. Já foi o artista de diversos jogos de tabuleiro brasileiros, inclusive protótipos, e vem sempre desenvolvendo tanto sua arte quanto seu gosto pelos jogos de mesa.

O entrevistado da coluna mensal Divina entrevista é o Diego Sá, ilustrador de grandes títulos como Histórias de pescador, Marvel Comic Hunters e lançamentos futuros como Luna Maris e Levitadores!

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Foto: Acervo pessoal

Quem é o Diego Sá?
Sou um ilustrador gaúcho que mora no interior do Rio Grande do Sul. Sou apaixonado pela minha esposa, família e meus pets. Sempre gostei tanto de desenhar quanto de jogar. Minha primeira experiência com jogos de mesa foi há 24 anos atrás com a segunda edição do AD&D (Advanced Dungeons & Dragons) e foi amor à primeira rolagem. Nessa época eu tinha 10 anos e muitos amigos igualmente entusiasmados. Eu folheava muito os livros básicos e a Revista Dragão Brasil e ficava hipnotizado pelas ilustrações desses materiais. Em 2008 conheci na faculdade os jogos de tabuleiro modernos que se tornou uma outra grande paixão!

Como começou a carreira artística no geral? E como começou a trabalhar com jogos de mesa?
Minha carreira começou logo após eu terminar a faculdade de artes. Fazia alguns freelances para agências de publicidade de Porto Alegre. Em um momento eu acabei me cansando da correria de trabalhar nessa área e quase desisti da ilustração.

Em 2014 quando eu já trabalhava no comércio, um amigo me convidou pra fazermos uns experimentos com jogos eletrônicos. Ele programava e eu ilustrava. Ficamos trabalhando juntos por quase três anos e nesse período eu larguei o emprego pra me dedicar melhor nos games. Mas minha paixão mesmo eram os jogos de mesa! Tanto os RPGs quanto os jogos de tabuleiro modernos. Foi então que comecei a mandar meu portfólio para várias editoras até que um produtor independente me achou e começamos a trabalhar juntos em dois jogos, entre 2015 e 2016. Infelizmente a editora não foi para a frente e esses dois projetos foram descontinuados. Depois disso eu peguei alguns trabalhos de RPG para ilustrar, mas em 2018 eu arrisquei e fui para o DOFF SP para conhecer as editoras de perto e foi aí que as coisas começaram a engrenar!

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Esquerda: Diego, Lucas Duarte (Histórias de pescador) e Gabriel Calderón da TGM. Foto: Acervo pessoal

Quais os principais projetos que trabalhou até hoje em termos de jogos de mesa e qual o seu favorito entre eles?
Bem, acho bastante difícil eleger um favorito! Acho que cada um deles tem algo que me faz sentir um carinho especial. Aqui estão alguns exemplos e o motivo de gostar de cada um deles.

Para RPG foram as seguintes:

  • Nebula: Piratas de Marduk (Coisinha verde) – Foi a primeira arte de capa de RPG que fiz e com ela eu fui indicado a melhor ilustrador no prêmio Goblin de Ouro, o que me deixou extremamente feliz e motivado!
  • Space Dragon, Old Dragon e Goddess Save the Queen (Redbox/Buró Brasil) – Artes internas para os livros, todos pela editora Redbox (hoje Buró), uma equipe de pessoas incríveis de se trabalhar.
  • Dragão Brasil (Jambô) – Recentemente com algumas artes para as capas e do Almanaque. Eu jogo RPG desde os 10 anos de idade e a revista sempre esteve presente na minha vida. Foi um sonho realizado!

Nos jogos de tabuleiro são os seguintes:

  • Teseu primeira edição (G10boardgames) – Foi meu primeiro trabalho publicado. Foi aí que fiz um grande amigo, o Éderson, designer do jogo. Foi graças a ele que eu pude ir ao primeiro DOFF São Paulo.
  • Histórias de pescador e Sirvam o rei (TGM) – Esses dois são sempre jogos que o pessoal comenta quando estão conversando comigo. As pessoas no geral tem muito carinho pelos dois. Em particular, o Sirvam o rei me deu muito prazer de ser feito, pois a TGM me deu uma boa liberdade para fazê-lo e foi nele que eu pude explorar um estilo “cartoon” que há muito tempo eu queria experimentar.
  • Witchland (Tiki Games) – Esse é um jogo que ainda nem saiu, mas que as pessoas também comentam muito dele para mim! Realmente feito com muito carinho e cuidado. Através desse projeto que fiz também um outro grande amigo que é o Arthur, sempre me dando muita liberdade para trabalhar e ‘comprando’ as loucuras que eu propunha.
  • Marvel Comic Hunters (Bucaneiros jogos) – Um outro grande sonho realizado! Eu nunca imaginei trabalhar com essa propriedade intelectual, sempre foi um sonho muito distante. Além disso, o jogo do Robert Coelho é ótimo, não é atoa que está sendo indicado a um monte de prêmios aqui no Brasil. Fico aqui na torcida para que esse jogo possa ganhar também o mundo!
  • Levitadores (On the table jogos) – Este aqui ainda está no forno! O financiamento coletivo está nas vésperas de iniciar! Vai ser minha primeira experiência com esse tipo de produto e foi também um jogo feito com muito carinho, pois toda a arte foi feita com muita liberdade, sempre consultando a editora e o designer para chegar num resultado que agradasse a todos. Além disso o jogo é uma grande sacada do André Teruya que tem muitos jogos incríveis! Se eu pudesse eu trabalhava em todos eles!

Além disso estão vindo outros jogos por aí que ainda não estão concluídos, mas que estão sendo igualmente gratificante trabalhar neles. Um exemplo é o Luna Maris da Meeple BR, além de alguns jogos da franquia Roll Players da Thunderworks Games.

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Trabalhando em Witchland. Foto: Acervo pessoal

Quais as principais influências para o seu trabalho atual?
Nos jogos de tabuleiro existem três artistas que costumam influenciar muito os meus trabalhos. O primeiro deles é o Vincent Dutrait (Loser). Acho o estilo dele fantástico! Parece com quadrinho europeu, mas tem sua própria marca. Ele faz tudo em arte tradicional, ou seja, é papel e tinta! Parece que a cada jogo ele foi pegando mais e mais o jeito de como fazer a arte funcionar nessa mídia e cada novo trabalho é uma obra de arte mais linda que a outra.

O segundo artista é o Dennis Lohausen (Village). Sim, tem gente que não gosta dele, eu sei… Mas a beleza da arte dele para mim não está na caixa ou dos personagens, mas sim na arte dos componentes e como ele organiza essas informações! Eu acho incrível! Essa admiração apareceu quando eu abri a minha caixa do jogo As viagens de Marco Polo pela primeira vez: eu achei incrível! O playmat era um balcão de escritório, o tabuleiro principal uma mesa com todos os objetos sobre ela, como se o peregrino estivesse se organizando para fazer a viagem, nossa! Claro, esse tipo de coisa não é novidade, mas sinto um encanto especial nas decisões criativas dele.

Já o terceiro é o Xavier Gueniffey Durin (Tokaido), mas não menos importante mais conhecido como “Naïade”. Meu primeiro contato com a arte dele foi em Tokaido, o que me fez procurar mais a respeito dele e descobri que seu estilo vai além desse jogo! Eu gosto muito do traço combinado ao trabalho de cores que ele faz. Deixa tudo muito vivo e expressivo!

Possui esses jogos onde você trabalhou na sua coleção pessoal?
Sim, tenho cada um deles! Alguns deles foram presente da própria editora. Certos jogos eu teria na minha coleção mesmo que não tivesse participado dele. Eu tive muita sorte de trabalhar em jogos interessantes e divertidos!

Você costumava (antes da pandemia) ser reconhecido em eventos de jogos ou mesa de jogos de tabuleiro como o artista de “tal jogo”?
Infelizmente eu não tive muita chance para isso: Os projetos começaram a engrenar pouco antes da pandemia. Meu último grande evento foi o próprio DOFF 2019. Como moro no interior do Rio Grande do Sul era difícil me deslocar pra acompanhar outros eventos. Mas nas redes sociais tem bastante gente que vem conversar comigo. Acho muito legal esse tipo de interação e gostaria muito de poder compartilhar um momento com essa galera quando tivermos uma nova oportunidade de fazer isso pessoalmente!

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Diversão Offline em São Paulo, 2019. Foto: Acervo pessoal

Descreva mais sobre os RPGS que trabalho, por favor. E jogos eletrônicos, trabalho com algum também?
Eu amo RPG! Faz parte da minha vida há mais de 24 anos! As experiências
que tive com ele foram as que citei anteriormente. Sobre os jogos eletrônicos eu também tive uma experiência: entre os anos 2014 e 2018 eu e um grande amigo chamado Eduardo Pras fizemos uma série de protótipos e experimentos de jogos digitais. Devem ter sido pelo menos uns doze! Um deles deu muito certo, um jogo de temática lovecraftiana com mecânicas de plataforma e point n’ click. Porém precisávamos de financiamento para continuá-lo e não deu certo. Ainda tenho esperança de ver esse projeto seguindo em frente!

Dê por favor umas dicas divinas para quem quer continuar na carreira de artista, dentro do mercado de jogos!
Bem, antes de tudo, as dicas que eu vou passar são baseadas na minha experiência e vivência no geral, talvez algumas delas não sirvam para os leitores do blog (é possível que nenhuma delas te sirva! Hehe!). Aqui vão!

  • Se você quer muito alguma coisa, corra atrás! Tente fazer contato com designers, editoras e produtores de conteúdo. Tente fazer de forma orgânica, não forçada! Participe de eventos de protótipos, porém agora, durante a pandemia, esses têm ocorrido online. Um dos principais eventos é o ProtoBR, lá tem muitos designers e editoras que costumam participar.
  • Participe de eventos presenciais (quando voltar a ser possível, claro!). Esse sim é um momento para ser mais incisivo, pois todo mundo está ali para isso mesmo! Leve cartões de visita e fale um pouco do seu trabalho. Leve algumas artes suas no celular. Mas cuidado: não tome muito tempo de quem está falando com você. Seja sucinto e observe o ritmo da conversa, no momento certo se despeça e agradeça a atenção.
  • É possível que no início não seja possível cobrar o valor que você imagina ser justo. Aceite trabalhos que você acredite no potencial deles mesmo assim. A partir deste podem se abrir novas portas. Você vai ter um trabalho concluído no portfólio, isso é muito importante, pois mostra para as outras editoras o que você consegue fazer.
  • Caso ainda não tenha nenhum jogo feito dessa forma, crie um! Você não precisa fazer um jogo de verdade, basta criar algumas artes, layout de cartas e outros componentes que faça sentido. Mas se você tiver alguma habilidade como game designer, por que não fazer um jogo de verdade? Não esqueça, você precisa de portfólio!
  • Estude! A melhor forma de estudar no mundo dos jogos de tabuleiro é jogando a maior quantidade de jogos que você puder. Isso ajuda a criar um ‘arsenal’ de ideias para o momento que você precisar resolver alguns problemas que vão surgir durante os processos de criação. Referências são tudo!

Agradecimentos divinos ao Diego de Sá pelo carinho de participar com o blog divino! Fiquem todos ligados, pois em maio tem mais entrevista! Para ler as entrevistas anteriores, clique aqui e divirta-se!