Autor, diretor e editor: Conheça David Mendes da editora portuguesa PYTHAGORAS

Assim como algum tempo atrás o blog teve a ilustre presença do canadense, quase brasileiro, Ron Halliday na coluna Divina entrevista, para o mês de maio contamos o historiador, professor, autor e editor de jogos David Mendes!

Somado a tantas funções, David também é o diretor da editora portuguesa de jogos de mesa PYTAGHORAS, onde publica jogos autorais e licenciados, inclusive com alguns títulos já presentes no Brasil.

Quem é o David Mendes?
Nasci em 1984 na cidade de Coimbra, eu sou licenciado em História e antes de me ter dedicado aos jogos de tabuleiro, trabalhei na área em questão e fui professor de História. Sou curioso e sonhador e desde pequeno gostava de criar os meus próprios brinquedos ou pequenos jogos, talvez venha daí a motivação de entrar neste mundo. Joguei muito ao longo da infância, mas nada além do tradicional Jogo da glória ou Monopólio, o meu contacto com os jogos de tabuleiro modernos surge numa fase bastante tardia, depois de terminar os estudos universitários.

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David e seu primeiro jogo, Quinto Império, em 2012

O que você fez ou com o que trabalha dentro do mercado de jogos de tabuleiro?
Quando era professor de história sentia necessidade de encontrar uma ferramenta que me ajudasse a motivar os meus alunos para que pudessem aprender de uma forma divertida. Fiz várias pesquisas e não conseguia encontrar nada e portanto decidi começar eu a criar algo… Comecei por um quizz que depois evoluiu para um jogo de tabuleiro. Depois de testar e perceber que funcionava comigo, achei que outros professores podiam de ter acesso ao meu jogo! Decidi começar a procurar uma forma de publicar o jogo, mas não encontrei quem se pudesse interessar. Então fiz o investimento em publicar o meu primeiro jogo, o Quinto Império. O jogo foi um sucesso e por essa razão decidi fundar a minha editora, a PYTHAGORAS.

Como é a experiência de ser editor e autor de jogos?
Nos primeiros anos de editora consegui conciliar as duas tarefas, mas o crescimento da editora roubou-me tempo para criar jogos. Atualmente necessito de alocar algum do meu tempo com as tarefas de administração da editora e por isso quase todos os jogos que são publicados pela editora são contratados a autores nacionais ou estrangeiros. Contudo, a maioria do meu tempo é dedicado a tarefas de desenvolvimento dos jogos que faço em conjunto com os autores assim como todo o trabalho editorial. A PYTHAGORAS só edita jogos com temas relacionados a história. Alguns jogos chegam-nos híbridos e por isso podemos adaptar a qualquer outro tema. Gosto da tarefa de os adaptar aos temas da história em geral. Nos últimos meses consegui uma janela de tempo para voltar a criar um jogo, então como o meu primeiro jogo faz este ano 10 anos e estava sem estoque há alguns anos, eu decidi desenvolver uma edição especial completamente nova. Foi bom voltar a criar! Vou tentar voltar a publicar um jogo meu por ano e claro que isso vai depender muito do fator tempo.

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Apresentação do jogo Garum na SPIEL’19 Essen

No seu perfil do BGG existe a posição de “redactor” de alguns jogos. O que seria?
É a palavra em inglês para editor. Gosto do trabalho editorial, pegar no protótipo, desenvolver com o autor, escrever a narrativa, regras e todo o processo editorial até a produção do jogo em fábrica.

Alguma participação em projetos de RPGs ou jogos eletrônicos no geral?
Até ao momento não. RPGs ou jogos eletrónicos são duas áreas que ainda explorei muito pouco.

A Pythagoras possui jogos voltados para PnPs?
Não. Até ao momento o foco está na publicação dos jogos com fins comerciais. Esta é uma ideia que tenho vindo a explorar e quem sabe, nos próximos anos poderemos vir a ter um ou outro projeto PnPs.

Dentro os jogos de sua autoria, qual o favorito e porquê?
Tenho uma paixão muito grande pelo Quinto Império, não por ter sido o meu primeiro jogo, mas porque foi um processo apaixonante de trabalho de vários meses de pesquisa e desenvolvimento. Está muito longe de ser um jogo perfeito, até porque mecanicamente é muito limitado e foi criado com uma finalidade muito especifica. Foi um jogo criado com os conhecimentos que eu reunia na época, mas a verdade é que o sucesso do jogo alavancou financeiramente a editora, ajudando a tornar o meu sonho possível. Por causa da paixão que tenho pelo jogo, decidi dar-lhe uma nova vida e desenvolver uma edição totalmente nova, com mecânicas que muito enriquecem. Fico feliz por saber que vem aí um Quinto Império II com toda a nobreza e estilo que o jogo merece.

Algum deles veio ao Brasil? Existem planos de outros jogos virem para a nosso mercado?
Aljubarrora, a Batalha Real e o Millions, o Último Soldado foram publicados no Brasil pela antiga editora Sherlock SA.

Café e o Pessoa, são dois jogos que não são da minha autoria, mas foram publicados pela editora e que vão este ano ter uma edição brasileira pelas mãos da editora Funbox.

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Por fim, alguma dica bacana para quem que começar a criar jogos?
Sejam criativos, não escondam os seus jogos de ninguém, testem, testem, testem… um jogo só pode evoluir quando é testado milhares de vezes e por um publico muito variado.

Não apresentem um jogo a uma editora sem o ter testado o numero suficiente de vezes que vos permita ter conclusões quando ao equilíbrio da mecânica.  Qualquer editor perde a vontade de continuar com um protótipo quando percebe que a mecânica contém erros básicos que espelham a falta de cuidado do autor. Por vezes perdem-se bons futuros jogos por isto. Há muitos autores que dedicam muito tempo a adornar os protótipos com efeitos artísticos, perdem horas com isso, mas gastam pouco tempo no desenvolvimento da mecânica. É um erro. Um editor que primeiro ver se a máquina funciona, só depois desta verá se esta polida e afinada e que se deve tornar bonita!