Luis Brueh, seus anões e a Divina entrevista

Ele é artista, criador de jogos de tabuleiro, designer gráfico, designer virtual, designer de jogo, designer do próprio cabelo e viajante mundo a fora. Brasileiro, na casa dos 30 anos e já com diversos jogos, expansões e promocionais lançados.

Ah! Além de tudo isso e do cabelo de dar inveja em muita gente, ele também tem uma editora própria agora, ou seja, vai enriquecer com os meeples (só que não)!

Quem é o Luis Brueh?
Luis Brueh tem 33 anos e nos últimos 15 anos ilustrou em mais de 300 revistas, publicou 7 jogos e mais de 20 expansões de jogos de tabuleiro. Acima de tudo é um apaixonado por contar histórias! Acredito que bons jogos transmitem experiências reais de maneira lúdica e por isso é importante viver bastante, viajar e tentar coisas novas para poder transbordar essas experiências quando você aborda elas direta ou indiretamente em um projeto.

E o sobrenome, como se pronuncia?
“Brí”, igual ao queijo brie.

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Como começou a carreira de board game designer?
Na infância eu construía cidades inteiras de lego com NPCs (personagens não jogáveis), monstros, armadilhas, etc. Tudo com um enredo escrito e chamava os amigos pra jogarem meus proto-dungeon crawler. Lá por 2008 eu comecei uma revista online de RPG criando um monte de conteúdo para sistemas D6 e em 2011 publiquei meu primeiro print-and-play (de mario kart). O cease and desist* que levei da Nintendo matou meu site (e minha querida revista de rpg), mas a resposta da comunidade fez eu focar ainda mais em criar jogos autorais. Então em 2014 eu assinei o Covil com uma editora nacional “que não pode ser nomeada” e em 2016 finalmente publiquei o Dwar7s Fall pela Vesuvius Media (Canadá). Finalmente em 2020 eu consegui abrir minha editora a Brueh Games!
*é uma ordem ou pedido para cessar uma atividade, sob pena de ação judicial

Já a carreira de artista, quando começou?
Pouca gente sabe, mas na época da ditadura o meu pai era um cartunista razoavelmente famoso e publicava tirinhas no Estadão, além de outros jornais de grande porte. Eventualmente ele achou que não era uma profissão das mais seguras e foi trabalhar em rádio e televisão. Então aprendi a desenhar desde pequeno, eu tinha muito material de referência em casa. Com 14 para 15 anos eu ganhei alguns concursos de pixel art, o que me levou a participar de alguns jogos da Capcom para celular e lá menti a idade e peguei o freela! Depois disso ganhei alguns concursos de estampa para o Camiseteria (hoje parte da Chico Rei). Trabalhei em agência de publicidade por alguns anos e eventualmente abri meu estúdio onde trabalhei por cerca de 10 anos desenhando as revistinhas do Snoopy, Luluzinha, além de revistas de jogos de passatempo infantis, tirinhas de jornal e livros didáticos de circulação nacional.

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Você é brasileiro, mas vive no Canadá. A mudança para o país influenciou no seu processo criativo? Se sim, de que forma?
Me mudei para o Canadá faz 6 anos. Viver as estações me inspirou muito e você pode ver parte disso na série Dwar7s. Mudei para cá em um verão e o meu primeiro outono foi um período de muita apreensão porque apesar de ser apaixonado pelas cores do outono, o frio vinha chegando e com ele veio um furacão no começo do inverno! Então tudo aquilo de estocar comida e se preparar o mais rápido possível, bem… foi o que realmente aconteceu! Haha!

Quais jogos seus já foram publicados, dentro ou fora do Brasil? E quais jogos ainda estão em negociação?
Todos os meus jogos publicados até agora foram assinados com alguma editora brasileira. Nem todas as expansões ou edições saíram no Brasil, entretanto. Por exemplo, a linda edição de colecionador do Dwar7s Outono (Dwar7s Fall), que como o nome dizia, só teve uma tiragem e quem pegou é bom que colecione mesmo, porque não sai mais!

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Luis Sparrow

Por ser designer de jogos e também artista, você começa a criar um jogo pelas mecânicas, tema ou artes?
Em geral, pelo tema. Depois disso a mecânica vai sendo criada, modificada ou jogada fora nos testes com meu grupo fechado (que é composto pela minha irmã e alguns amigos próximos) até que eu encontre algo que eu goste bastante. Daí o processo de arte começa. A arte algumas vezes modifica a mecânica, porque é um processo onde eu tento deixar tudo o mais claro e objetivo possível. Só com a arte pronta abro o playteste pra geradores de conteúdo e público geral.

E o que é mais prazeroso de se criar: o desenvolvimento das mecânicas ou artes da caixa e componentes?
Pessoalmente eu gosto de criar personagens. É minha parte favorita! Criar a parte mecânica é bem frustrante e algumas ideias super inovadoras acabam engavetadas por conta de não saber ainda como resolver um ponto ou outro que me incomodam. Não é incomum eu fazer micro jogos apenas para explorar um mecânica que eu criei que acho particularmente interessante e eu usar aquela ideia mais pra frente em outro projeto maior.

Qual sua criação favorita?
Quem acompanha meu trabalho sabe que eu costumo aprender com cada jogo e reaplicar o que aprendi nos próximos, mesmo que sejam jogos bastante diferentes. No momento estou bem apaixonado pelo Night Parade of a Hundred Yokai e pelo Keep the Heroes Out. Night Parade é um engine builder assimétrico lindo e super rapidinho enquanto o Keep the Heroes é um jogo que comecei em 2012, parei e recomecei tantas e tantas vezes, mas agora está melhor do que eu jamais sonhei que ficaria!

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Você pretende lançar algum jogo PnP durante a pandemia?
Na real eu lancei um no começo da pandemia. Você consegue os arquivos da versão PnP do Valknut com facilidade no BoardGame Geek. Talvez eu lance outro jogo PnP ainda esse ano.

Por favor, deixe uma mensagem com dicas para quem quer fazer carreira do mercado de jogos de tabuleiro!
Faça pelo prazer de fazer, sem esperar viver disso, porque quando o sucesso chegar será uma surpresa boa. Existe muita gente que se frustrou nesse hobby porque estava em busca de um reconhecimento que é mais fácil de ser conseguido em qualquer outro ramo da indústria criativa. Acima de tudo, trate as pessoas com carinho e respeito, seja acessível aos seus jogadores e pares para as dúvidas que eles tenham sobre seus jogos. Todo mundo tem algo a ensinar e algo a aprender!

Agradecimentos divinos ao amigo Luis Brueh pela entrevista! Para acompanhar as entrevistas anteriores, clique aqui!