O que eu aprendi realizando uma campanha de caridade com jogos de mesa

Foi uma longa jornada. Da ideia concebida em 2019, antes da pandemia de coronavírus no Brasil, à realização da campanha em março deste ano de 2021 foi definitivamente uma longa jornada.

Olá, o meu nome Rodrigo Deus, eu sou o fundador do blog Meeple Divino e eu hoje vou escrever para vocês como foi essa jornada de realizar uma campanha de caridade usando jogos de mesa no geral. Como diz a sabedoria popular: vamos por partes nessa longa postagem.

No começo tudo era uma busca por uma instituição parceira
A ideia me veio em 2019, pois eu sempre estou buscando, anotando e analisando ideias de textos para o blog divino. Da mesma forma que outros geradores de conteúdo também anotam possíveis pautas para seus canais, eu o faço para tentar gerar textos diferentes e interessantes para o meu público.

Com isto posto, a ideia de fazer uma campanha de caridade, onde eu gostaria arrecadar dinheiro para enviar para alguma Organização não governamental (ONG), iniciativa de bairro, projeto de caridade ou qualquer coisa que pudesse me oferecer uma mínima parceira: divulgar ao seu público sobre a campanha e sobre como novos setores da economia (os jogos estão dentro dos “brinquedos”) podem ser usados para ajudar a quem precisa. Isso foi um desafio, pois boa parte das instituições querem doações, mas não querem se envolver com seus doadores de alguma forma.

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Recorte: RUAS

Mesmo que isso pareça orgulhoso de minha parte, a ideia era bastante boa. Organizei as regras em um rascunho de postagem aqui no meu blog, sem publicar, e fui atualizando conforme eu precisava. Daí veio a primeira dificuldade: a falta de contato dessas instituições e também a falta de interesse de ajudar na divulgação da parceria. Pasmem. Boa parte das instituições que me responderam simplesmente deixavam claro que ou faria a campanha por conta própria sem qualquer ajuda na divulgação deles ou que eu procurasse outra instituição para esse fim. Comecei as buscas em janeiro de 2021 e tive retorno positivo do Projeto RUAS no mês seguinte.

Trocar jogos… Ou não
Dada a demora em conseguir uma instituição parceira, a campanha já estava elaborada com regras que eu mesmo precisaria seguir para me ajudar nas trocas e doações de jogos. A ideia das “trocas de jogos por algo levemente melhor” não era nova e já sido feita pelo usuário da Ludopedia e leitor do blog Rodrigo Caruso. Ele chegou bem longe nos seus jogos, como pode ser conferido aqui. Eu gostaria de seguir nessa jornada que me parecia um grande jogo por si.

Entretanto, muita gente super valoriza seus jogos e muitas oportunidades precisaram ser recusadas. Por um lado é interessante trocar um jogo que custa em torno de 100 reais por dois jogos que custam R$ 60, totalizando 120 reais, porém dado o número de interessados na Ludopedia – afinal é preciso ter um parâmetro numérico – nem sempre dois jogos que totalizassem mais valor financeiro eram necessariamente jogos que muita pessoas gostariam de ter na sua coleção. Fora que nem sempre o que era ofertado era algo novo ou em bom estado e existiu quem se irritasse ao descrever e enviar fotos do seu jogo, mesmo depois de receber fotos dos jogos da troca.

O silêncio que machuca
Acima do constante contato com diversas pessoas, da constante preocupação em sempre impulsionar a campanha, do gasto com transporte público e logística no geral, houve um fato que foi definitivo para que eu tivesse uma boa ideia de como é difícil, principalmente sozinho, tocar uma campanha de caridade. Esse fator é o silêncio de muitas pessoas que são do meio de jogos de tabuleiro.

Diversos geradores de conteúdo, lojistas e profissionais do meio simplesmente não respondem mensagens, recados, mensagens de voz ou qualquer outro meio de contato. Não foi nada incomum que aplicativos mensageiros como Messenger e Whatsapp indicassem que alguém recebeu uma mensagem minha pedindo uma divulgação na campanha ou, quem sabe, o interesse em trocar algum jogo… e receber o silêncio como reposta.

Insistir mesmo que apenas uma vez poderia significar revolta, reclamação e outros. A lista de contatos e “amigos” nas redes sociais diminuiu bastante. Negar querer participar de alguma forma, informar que não tem interesse ou que já ajuda outras causas não estão incluídas aqui.

Leilões, comissões e proibições
Chegando em agosto foi realizado o primeiro leilão, a partir do dia 2, e aí sim foi quase tudo alegria. Os lances caíram muito bem e a comunidade se demonstrou muito receptiva em comprar jogos e ver que seu dinheiro iria para ajudar pessoas que passam fome, sede, dificuldades sociais em geral e que moram na rua. O impacto de ter o Projeto RUAS como parceiro nessa jornada foi muito positivo também, pois o público-alvo deles é uma realidade em qualquer parte da cidade do Rio.

Todavia, “nem tudo são flores” como já informava minha saudosa avó Maria. Por parte da Ludopedia eu não tive qualquer isenção ou redução na comissão de 10% (dez por cento) do pagamento por item de cada leilão, dos mais baratos aos mais caros. Campanhas de outros usuários que arrecadaram mais tiveram suas comissões isentas desde o começo.

Além disso, postagens sobre o leilão são proibidas, algo que não está descrito nas regras do portal (ou até a publicação dessa postagem não estavam), mas que geraram a exclusão da mensagem de alerta para o leilão que estava no portal. Em outras palavras, não poderia postar na Ludopedia sobre um leilão de caridade que estava sendo realizado na própria Ludopedia e que, considerando que tive que pagar o valor integral da comissão por item vendido, estava gerando dinheiro para a própria Ludopedia. Se por um lado realmente vira uma “bagunça” tantas e tantas postagens sobre vendas e leilões, por outro lado o bom senso ficou de lado.

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Recorte: Mensagens diretas, Ludopedia

O momento de tomar outra decisão também havia chegado. Dada a série de “nãos” e “regras que estão sendo debatidas internamente”, a partir de hoje eu passo a postar unicamente resenhas de jogos no portal Ludopedia. Não é nada agradável estar em um ambiente onde as regras, exceções e outros são impostos atrapalhando a postagem de conteúdo no portal ou ainda uma campanha de caridade, fora outras postagens inteiras que eu já tive sendo deletadas do portal por conta de regras antigas. Se vale também um adendo, as postagens sobre leilões de jogos de tabuleiro inseridos em campanhas de caridade também não foram contabilizadas para o Prêmio Ludopedia 2021, que é premiado este ano de 2022. De acordo com o portal, só vale “postagens sobre jogos”. Caridade envolvendo jogos não vale, pelo visto.

Agora sim, tudo acabou
Chega a parte dos envios. Levar 40 caixas à uma agência dos Correios sem carro não é nada fácil. Enviar, monitorar rastreamento e torcer para tudo chegue em boas mãos também não. Fora o gasto com material de proteção, caixas e mais caixas de papelão e impressão de etiquetas. Saudade da musculação? Sim!

Uma longa jornada que culminou em R$ 9.332,07 em dois leilões com mais de 100 itens dentre jogos, acessórios e itens promocionais. Jornada esse que trouxe alegrias, tristezas e muito crescimento pessoal.

Fica o agradecimento a cada um de vocês que participou, divulgou e incentivou a campanha. Um abraço divino e muitos votos de que todos os dias vocês possam sorrir!