Resenha – Quissama: O império dos capoeiras

“Rio de Janeiro, 1868. Quissama é um escravo foragido que conta com a ajuda do detetive inglês Woordruff para encontrar Bernardina, a mãe desaparecida. Enfrente as lutas de capoeira entre Nagoas e Guaiamuns que dividem o Rio de Janeiro da época. Escolha seus personagens e tome parte nessa trama!” – Caixa do jogo, Ludens Spirit

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Quissama: O império dos capoeiras é um jogo brasileiro criado por Ricardo Spinelli e inspirado no romance homônimo de Maicon Teffen. Lançado em 2015 pela editora Ludens Spirit, Quissama foi um jogo que teve uma campanha de financiamento coletivo com sucesso, apresenta personagens do livro e possui um cenário muito bacana: o Rio de Janeiro antigo. A leitura do livro não é exigida, mas é um ótimo complemento!

Mecânicas
– Gerenciamento de mão
– Influência em área
– Poderes variáveis dos jogadores

O jogo é baseado em um livro que conta a história do escravo foragido que, com a ajuda de um detetive inglês, tenta encontrar sua mãe, tudo isso se passando no Brasil, mais especificamente no Rio de Janeiro. Misturado aos personagens do livro, existem algumas figuras históricas reais (como José de Alencar, por exemplo). O objetivo final do jogo é conseguir conquistar um desses personagens e cumprir o seu objetivo, diferente para cada personagem, uma pequena corrida contra o tempo e contra os adversários.

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Componentes e organizador

Cada jogador começa com cinco cartas na mão e um seguidor/meeple em dos espaços de Comércio no tabuleiro. São colocadas 3 cartas quaisquer do baralho de compras no tabuleiro formando assim o “mercado” do jogo. Com esse mercado e com as cinco cartinhas na mão do jogador, cada um pode fazer o número de ações que quiser e puder, sem limite. Na prática, cada um pode trocar cartas com o mercado, baixar cartas para acionar umas partes do tabuleiro, descartar uma ou mais cartas (até a mão toda!) ou passar a vez.

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Tabuleiro no começo da partida

Em se tratando de áreas do tabuleiro, cada jogador pode conseguir mais cartas para sua mão no início da rodada, abrir comércios novos ou completar os existentes para conseguir mais dinheiro, libertar escravos ou contratar os mesmos para trabalhar para si e atacar praças e comércios controlados ou próximos dos oponentes. Ainda é possível atacar as áreas próximas de outros jogadores!

Conforme o jogo avança e as familiaridades dos jogadores melhoram, cada personagem possui uma habilidade diferente e essas habilidades se tornam mais ou menos interessantes. Aí está uma das formas do jogo de manter a rejogabilidade e o conteúdo diferentes de forma geral.

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Os personagens a serem conquistados

Para ativar um personagem é necessário entregar o número de cartas que o mesmo aponta na combinação correta. Para ativar a personagem “Princesa”, por exemplo, são necessárias três cartas de “liberdade” que normalmente são utilizadas para libertar os escravos do jogo. Após isso, coloca-se um seguidor da cor do jogador em cima da carta do personagem. Uma vez que alguém tenha dois seguidores em uma carta de personagem (ou seja, baixado a combinação de cartas necessárias duas vezes), o personagem é “conquistado” por aquele jogador, que agora passa a controlar ele e poder realizar uma habilidade exclusiva. e também uma condição de vitória específica. Vários personagens podem ser conquistados por conta de suas habilidades ao mesmo tempo.

O jogo ainda conta com variantes bem interessantes que adicionam novas camadas de estratégia e opções de rejogabilidade.

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Exemplo de final de partida

Considerações finais
Quissama, que corretamente se lê “quíssâma” é um jogo brasileiríssimo! Primeiramente pela sua temática e e personagens e segundo pela sua produção pela Ludens Spirit, já conhecida por tantas outras publicações. Aqui está retratado um jogo feito no Brasil, com relativo custo baixo e ótima qualidade termos de material de forma geral. Claro que existem pontos negativos a serem ressaltados, mas isso será abordado em breve.

O jogo possui uma fluidez que demora um pouco para ocorrer, principalmente pela liberdade que dá a cada jogador quanto à sua mão de cartas: trocar cartas, descartar a mão, baixar para ativar diferentes áreas do tabuleiro… pode não parecer, mas é bastante coisa. Além disso, a variação de cartas na mão e a necessidade de ter que utilizar o que está disponível naquele momento criam uma boa mistura na mecânica do jogo. Em outras palavras, nem sempre as cartas na mão do jogador permitem realizar ação que o mesmo gostaria, porém boa parte das vezes permite realizar alguma outra ação. Essa necessidade de utilizar da melhor forma possível a mão atual de cartas está presente também em títulos consagrados no mercado de jogos de tabuleiro como em Ascension, Dragonheart e Oh my goods!, por exemplo.

Existe uma clara preocupação do autor quanto à rejogabilidade do seu jogo, dado o número de personagens e a variação das cartas do baralho de compras. Basicamente, Quissama é um jogo de colecionar componentes e gerir sua mão com condições de vitória interessantes, pois não basta conquistar um personagem, também é precisar ativar a condição de vitória do mesmo.

A mecânica simples oferece boa interação na mesa, seja bloqueando um personagem, ativando o mesmo ou interagindo com o tabuleiro na pequena corrida para vitória. Porém, dentro essa mesma mecânica existem momentos em que as cartas do mercado ou da mão acabam não sendo interessantes, ou ainda seria melhor utilizadas em outros momentos. Uma forma direta de trocar as cartas do mercado já ajudaria muito nessa questão de mitigar a sorte das cartas.

Existem alguns elementos no tabuleiro que precisariam ser melhor valorizados de forma geral, como personagens que trocam ou roubam seguidores dos jogadores, a área do tabuleiro que lida com roubar as cartas dos adversários. Uma pequena regra de não deixar todos os personagens dispostos à mesa (sorteio de número de jogadores mais 2 personagens, por exemplo), o que já resolveria e está presente nas variantes avançadas do jogo.

Por fim, como fica óbvio por parte de quem possui o jogo, as cartas ficaram finas, o que leva os jogadores a utilizarem sleeves (até porque existe descarte e embaralhamento de cartas no jogo). Não é algo grave, mas é um ponto negativo presente.

Pontos positivos
– Jogo brasileiro com tema brasileiro muito bem trabalhado
– Boa utilização de mecânicas mantendo o jogo simples e divertido
– Fácil de ensinar e aprender
– Bom nível de interação
– Linda arte

Pontos negativos
– As cartas do mercado podem não ser interessantes
– Os personagens poderiam ser sorteados